freud propôs a expressão mal estar na civilização para descrever as diferentes situações de impasse que nos fazem sofrer: o declínio natural do corpo, a imperfeição de nossas leis e as exigências internas de satisfação. o mal estar não se revela uma situação passageira ou contingente, mas uma espécie de condição que temos que aceitar para existirmos, juntos neste mesmo mundo. a pergunta que rege este módulo é saber quais são os limites do sofrimento que devemos suportar e aceitar e quando é preciso agir para mudar o mundo ou para transformamos a nós mesmos? outra maneira de discutir este problema é observar como nossos sintomas, codificados, como a depressão, a ansiedade, a anorexia ou as adições, tornaram-se formas de nos desresponsabilizar pelo desconforto e angústia que o mal-estar necessariamente traz consigo. certos sintomas são mais adaptativos do que outros, assim como certas modalidades de sofrimento são mais visíveis ou mais intoleráveis que outras. há, portanto, uma política envolvida aqui, sobre como definimos os limites do suportável. há também uma história das formas de sofrimento e dos tipos “ideais” de sintoma, que tentaremos examinar em nossos encontros. o modo de sofrer que gerou o nascimento da psicanálise, há mais de 100 anos, será comparado com as nossas condições atuais e “brasileiras” pelas quais a equação entre mal-estar, sofrimento e sintoma pode ser redesenhada. a importância deste tema não nos leva apenas aos modos de nos reconhecermos em nosso tempo e em nossa época, segundo nossa forma particular de sofrer, mas também nos convida a entender porque uma boa concepção sobre o sofrimento é ao mesmo tempo uma teoria de sua possível transformação: clínica e social.
gravado em maio de 2015.
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