nas últimas quatro décadas, a identidade feminina foi objeto de estantes inteiras de indagações científicas e literárias. claro, havia uma razão: o lugar das mulheres, na praça e no lar, mudou brutalmente. igual, é curioso que, nesse período, as dificuldades da identidade masculina tenham sido quase silenciadas – como se “ser homem” fosse (e continuasse sendo) simples, quase óbvio.
a verdade é outra: ser homem nunca foi tão difícil.
1) houve a descoberta que os homens também, atrás do paletó, têm um corpo erótico.
2) o amor materno (parental, nesta altura), cada vez mais narcisista, veio impondo expectativas grandiosas que pesam especialmente sobre os meninos, porta-estandartes dos sonhos frustrados de seus pais. talvez seja por isso, aliás, que os homens fantasiam tanto, mas se calam a respeito de suas fantasias: eles DEVEM sonhar os sonhos de seus pais (sobretudo de sua mãe), mas também DEVEM proteger, atrás da porta do banheiro ou do home-office, os devaneios grandiosos que receberam em herança.
3) os ideais masculinos tradicionais (o provedor e o aventureiro) perderam seu manto de seriedade: fantasiar com eles se tornou quase uma piada. mas não por isso a cultura de massa deixa de propô-los incansavelmente como sonhos para meninos (jovens ou menos jovens).
4) nos anos 1990, a cobiça forneceu um novo ideal, que combinava magicamente o papel do provedor e o do aventureiro: ganharei fortunas na corda bamba. a crise atual acabou com esse achado. o que resta?
gravado em maio de 2009.
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